sábado, 24 de setembro de 2011




 Nos textos irlandeses, há grande número de menções concernentes às armas, aos utensílios ou às jóias de bronze. Esse metal simboliza a força militar, embora indique também um estado antigo de civilização material (Idade do Bronze). Entretanto, a palavra findruine, que significa bronze branco, apresenta um problema, pois não se sabe se ela designa o latão ou o electro (liga de ouro e prata). É provável que os irlandeses a tenham aplicado tanto em relação ao primeiro caso, quanto ao segundo.
            Segundo a tradição grega, foi Cíniras, o primeiro rei de Chipre (vindo provavelmente de Biblos), quem teria inventado o trabalho do bronze.
            O palácio de Fama, a deusa da Reputação, é todo de bronze, está sempre aberto e repercute as palavras que chegam até ele, amplificando-as. Fama vive rodeada pela Credulidade, pelo Erro, pela Falsa Alegria, pelo Terror, pela Sedição, pelos Falsos Rumores, e vela, de seu palácio, sobre o mundo inteiro. Essa lenda utiliza uma das propriedades bem conhecidas do bronze: sua sonoridade; daí seu emprego na fabricação dos sinos.
            Segundo Hesíodo, a raça de bronze é terrível e poderosa. Um dos últimos representantes na Terra dessa raça de bronze teria sido Talo, personagem da lenda cretense, que às vezes aparece como um ser humano e, outras vezes, como um ser mecânico feito de bronze, semelhante a um robô, que teria sido fabricado por Hefestos ou por Dédalo, o engenheiro-arquiteto do rei Minos. Esse Talo de bronze era uma criatura temível. Minos o havia encarregado de impedir a entrada de estrangeiros em Creta, e de impedir que saíssem da ilha seus habitantes. Talo bombardeava os infratores com enormes pedras ou, o que era ainda pior, fazendo com que seu corpo de bronze ficasse em brasa, ele perseguia, apertava entre os braços e queimava os culpados. Foi para escapar dele que Dédalo teria fugido da ilha pelo caminho dos ares. Mas – observação importante – Talo era invulnerável em todo seu corpo, salvo na parte inferior da perna, onde se encontrava uma pequena veia, encerrada num dos tornozelos... Medéia, através de seus encantamentos, conseguiu romper essa veia, e Talo morreu. E esse foi o fim da raça de bronze. O que há de notável nessa história é essa vulnerabilidade na parte inferior da perna, tal como no caso de Aquiles, que só era vulnerável no calcanhar. É o indício de uma fraqueza psíquica e moral. O singular é que toda potência energética do robô de bronze se tenha esvaído por esse canal, uma vez aberto pela maga. Acaso podemos aventurar-nos a dizer que Talo simbolize a energia de mau quilate, de natureza puramente material, a energia pervertida, inteiramente submissa aos feitiços da magia, fosse ela magia da ciência e da arte de um Dédalo, de um Hefestos, de uma Medéia?


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