domingo, 15 de julho de 2012


 SOB A LUZ DO LAMPIÃO
  Clodomir Monteiro da Silva



    1. A estância do João Batista
    É um primor de belezura
    Lá existe tanta fartura
    Que tudo nela é um colosso.
    Em qualquer campo que escolhas
    Só tem trevos de três folhas
    Combatendo o capim grosso.

    2. Na entrada tem dois palanques
    Gravados com iniciais
    De letras tradicionais.
    Tem a B pela direita
    E outra pela canhota
    Onde está gravado um Jota
    Em simetria perfeita.

    3. No fundo do avarandado
    Quando o trabalho começa
    O patrão muito estimado
    Tem um martelo na mão.
    Batendo com muita fé
    A turma se põe de pé
    Prontita para o serão.

    4. Depois de ter relatado
    O que antes fora feito
    O patrão Justo e Perfeito
    Dá ordens ao capataz.
    Mas este que tem um sota
    Repete a mesma lorota
    Sabendo porque o faz.

    5. Mais adiante, um piazote
    Desses piás de recado
    Pega um saquinho bordado
    Prá recolher algum cobre
    Que é sempre um bom ajutório
    Numa doença ou velório
    Em rancho de peão pobre.

    6. Lá pelas tantas da noite
    Quando a chusma se expande
    O dono da casa grande
    Faz a sua preleção.
    Mostrando o bem com clareza
    Vai dizendo com franqueza
    Muitas verdades ao Irmão.
7. Se nas rodadas da vida
Perderes a montaria
Procures bater um dia
Na casa desta fazenda.
Terás aqui bom cavalo
Cama e mesa que é um regalo
E amigos que te prenda.

8. Os homens são todos iguais
Perante o grande patrão.
Nunca tenhas a ilusão
De ser o mais virtuoso
Pois o couro de um animal
Se escolhe pelo carnal
Onde os gusanos têm pouso.

9. Sê limpo e de bons costumes
Nunca sujes tua mão
Porque senão meu Irmão
Terás fechado a porteira.
Viverás cruzando estradas
Tal qual as almas penadas
Em noites de sexta-feira.

10. Vais dizendo pelo mundo
Quanto vale a liberdade
Que o nível da igualdade
É uma jóia muito fina.
Que somos nossos espelhos
E os homens bem parelhos
São qual botão de batina.

11. E se encontrares alguém
Atolado na desgraça
Tens o dever, e de graça
Retirá-lo do atoleiro.
Tu, praticando esse bem
Verás que um outro alguém
Por ti já lutou primeiro.

12. As luzes que vocês vêm
São emblemas desta estância
Que iluminam as distâncias
Rompendo as trevas dos campos.
São os sacis sorrateiros
Que quando pitam palheiros
Pedem fogo aos pirilampos.
13. Dentro das trevas tem luz
Mas somente a estrela boa
Se reflete na lagoa
Na busca da própria imagem.
Dali é que brota essa luz
Que irmanamente conduz
Quem se perdeu na viagem.

14. Sigamos pois o exemplo
Da vida, na própria vida
Há uma coisa escondida
Que levanta o arreador.
Nos rodeios dos mistérios
Há tantos ventos gaudérios
Que brincam no corredor.

15. Da natureza bendita
Estudemos ensinamentos
Vemos que lição bonita
O campo lá fora nos dá.
Há contrastes de poemas
Nos risos das siriemas
Prá oração do sabiá.

16. Jamais um bando de garças
Estende seu lençol branco
À sombra de algum barranco
Que pode esconder surpresa.
Pois até a podre carcaça
Da corvalhada, tem graça
Tem fascínio, tem beleza.

17. Entre o céu e a terra amiga
Tem tanta filosofia
Que a nossa sabedoria
É difícil compreender.
Nasce a estrela no oriente
Tem que morrer no ocidente
Prá de novo renascer.

18. E assim nas portas do templo
Que nos abre a natureza
Só encontrarás beleza
De um colorido diverso.
E darás muito obrigado
Se fores um bom empregado
Do Patrão Mór do Universo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário