sexta-feira, 4 de maio de 2012

A. Intolerância e mediocridade

Violador contumaz dos regulamentos acima, e de dezenas de outros que disciplinam as nossas relações, incluindo os landmarques, o maçom supersticioso é inimigo da verdade e amante da mentira. A facilidade com que se entrega aos encantos de certas imposturas –algumas fabricadas por bárbaros e alucinados que viveram na Idade do Bronze–, chega, em alguns casos, a ser revoltante. Preguiçoso mental por excelência – característica notória de todo indivíduo supersticioso –, ele nunca se dá ao trabalho de investigar o que lhe apregoam ou as falsidades que instila deliberadamente na própria cabeça, permanentemente cheia de minhocas e voltada para o mundo das coisas extravagantes. Ele absorve dogmas, fábulas e teorias mirabolantes sem jamais submetê-las ao crivo da razão. Quanto mais fantástico e absurdo é o mito que lhe apregoam, mais fácil e avidamente ele o devora. Para ele as coisas irreais valem mais do que as reais; as invisíveis, mais do que as visíveis. Runas, mantras, chakras, cristais, sefirotes, bruxedos, pentagramas e amuletos valem mais do que pontes, pomares, diques, vacinas, adubos, medicamentos, escolas, asilos, Filosofia, Matemática, Medicina etc. A Ciência não é objeto de suas preocupações, a Filosofia o aborrece e da realidade ele foge como a barata das cerdas de uma vassoura. São coisas incompatíveis com o seu cérebro indolente e obscuro, porque a Ciência requer investigação, a Filosofia exige estudo e reflexão e a realidade não combina com a covardia. No seu tosco entendimento, esses assuntos maçantes devem ser deixados a cargo dos desprezíveis materialistas, indivíduos afastados de Deus.

O maçom supersticioso não vê com bons olhos o progresso da Ciência e raro é o que têm respeito pelos irmãos que só aceitam o que ela ensina e a experiência confirma. Nesses costuma lançar a pecha de ateus, ímpios, descrentes e outros termos rebaixados, cujas etimologias muitas vezes nem conhece. Autênticas e dignas de louvor são para ele apenas a confissão religiosa que professa, as quimeras que fermentam em seu cérebro, e as divindades nas quais crê. Tudo o mais ele rechaça como coisa vil e falsa.
Quais são os ídolos do maçom supersticioso? Os irmãos Francisco Miranda, George Washington, Simon Bolívar, San Martin e Gonçalves Ledo, que sacudiram o jugo do colonialismo e libertaram o continente americano de seus opressores europeus? Não, são os impostores Cagliostro e Saint-Germain, dois assíduos frequentadores de cadeias que perambulavam pela Europa no séc. XVIII, aplicando golpes por onde passavam! Por esses nutre um amor todo especial, ainda que em suas respectivas folhas de serviço não conste o registro de um único ato comprovado praticado em prol da humanidade.
Em quem se espelha esse tipo de maçom? Nos irmãos Tomas Jefferson, Tomas Paine e Lafayette, que fundaram a nação mais poderosa e próspera do planeta, os Estados Unidos da América? Talvez ele nem saiba quem foram esses três gigantes! Sua preferência é por gente ignota, paspalha e sem biografia, tais como Martinez de Pasqually e o Barão de Tschouldy, dois impostores que inundaram a coreografia maçônica de graus fraudulentos!
Quais são os “líderes espirituais” do nosso maçom? Algum filósofo que contribuiu para içar a humanidade das trevas da ignorância, abrindo-lhe as alamedas do progresso, tais como os irmãos Montesquieau e Voltaire? Não, são os visionários Emmanuel Swedemborg e Luis Claude de Saint-Martin, que em seus livros descreveram os mistérios da criação com a mesma autoridade que algumas doses de aguardente confere a um bêbado, que fala o que lhe vem na cabeça quando fica fora de si!
Nas palavras de quem nosso personagem dá crédito? Nas que se acham nas páginas monumentais deixadas pelos cientistas maçons Alexander von Humboldt e Samuel Hahnemann? Não, interessa-se mais pelas depravações saídas da pena de libertinos como Charles Leadbeater e Aleister Crowley, dois notórios maníacos!
Quais são os poetas preferidos do maçom em exame? Os imortais e insignes irmãos Pushkin, Lessing e Goethe? Não, conhece-os apenas pelo nome, quando os conhece! Em compensação, tem na ponta da língua cada parágrafo escrito pelos impostores e visionários Eliphas Levi, Papus, Madame Blavastky e Anne Besant, que poluíram a Maçonaria com suas teorias absurdas!
Quais são as preferências musicais desse nosso irmão sonhador? Alguma sinfonia composta pelos irmãos Haydn, Liszt ou Mozart? Não, prefere ouvir ruídos eletrônicos conhecidos no mercado como música New Age, ou, opcionalmente, compassos repetitivos e distorcidos produzidos pela cítara de algum faquir esquelético!
Que livros figuram na estante do maçom supersticioso? Algum escrito pelos luminares maçons Franklin, D´Alembert e Knigge? Não, prefere orná-la com engendros sensacionalistas e inúteis do tipo Conceito Rosacruz do Cosmos (Max Heindel), O Casamento Alquímico de Christian Rozencreutz (autor desconhecido), A Força Oculta (Helena P. Blavatsky), Dogma e Ritual da Alta Magia (Eliphas Levi), Eram os Deuses Astronautas (Erich von Daniken), O Despertar dos Mágicos (Jacques Bergier e Louis Pauwels) e outros lixos congêneres que usa para adubar diariamente o jardim do mundo de ilusões em que vive!
O que é comum encontrarmos na cabeceira da cama onde se deita o nosso maçom, quando ele nos convida a conhecer a sua residência? Algum livro útil que fortaleça as funções do cérebro? Alguma obra que aperfeiçoe e aguce o raciocínio? Algum material útil à sociedade e ao progresso do país? Não, mais fácil é acharmos amuletos de toda a natureza ou, como eu mesmo já tive oportunidade de presenciar, copos contendo pedaços de cristais imersos em água, cuja função é, segundo ele, atrair “vibrações positivas” e as “forças cósmicas
do Universo”.(**)
(**) E também fêmeas de insetos e mosquitos transmissores de pragas e doenças contagiosas.
Inconsciente de sua própria pequenez, incapaz de enxergar um palmo na frente dos olhos embotados pelo véu da ignorância, ao discorrer sobre os enigmas da criação o maçom supersticioso acaba se revelando uma criança atrevida, quando não um perfeito idiota. Ele fala da criação dos mundos com uma fluência tal que torna difícil conter o riso. Da maneira como descreve o Grande Arquiteto do Universo, chega a passar a impressão de ser o próprio, ou pelo menos de alguém com quem diariamente toma um trago no bar da esquina. No íntimo, ele não crê nem aplica os pontos das doutrinas quiméricas que apregoa, sobretudo aqueles que versam sobre a prestação de ajuda aos pobres. Raro é o que não se omite nesse particular. Ele costuma deixar a máscara cair quando um irmão necessitado solicita a sua ajuda ou uma criança pobre aparece-lhe na frente mendigando algo para comer ou para se vestir.

B. Lixeiros e Mercadores de Ilusões

O maçom supersticioso age como lixeiro na Maçonaria, só que de maneira inversa ao do valoroso funcionário do serviço público de limpeza, que cuida do asseio de nossas ruas. Toda a porcaria que consegue catar no esterco místico da sociedade ele traz para dentro da sua loja para fortalecer suas arengas, conquistar sequazes, e gente com quem compartilhar suas fantasias excêntricas. Se a loja dispõe de uma biblioteca, ele logo a transforma em depósito de lixo, em uma réplica quase idêntica da que possui em casa, entulhando-a com títulos iguais ou semelhantes aos citados lá atrás.
Por fanatismo, inocência, ou mesmo princípio de loucura, nosso personagem assim age porque julga ser uma criatura especial, um verdadeiro “iniciado”, um iluminado com missão divina na Terra, quando na verdade não passa de um desequilibrado emocional, de um visionário movido por “delírios de poder”, de um infeliz que nutre certo desprezo pela vida na Terra. Seu comportamento proselitista, contrário ao regulamento que proíbe toda e qualquer discussão de caráter político ou religioso em loja, compromete o maior tesouro que a Maçonaria “ainda” possui, único no planeta, que é o de poder reunir, sob um mesmo teto, irmãos de todas as nacionalidades, etnias e religiões.
Ao lado desse irmão não poderia faltar, é claro, o onipresente mercador de ilusões, o maçom falsário que vive com ele em permanente estado de simbiose, que lucra com a sua credulidade. Este embusteiro começa a sua carreira na Maçonaria construindo pacientemente uma auréola mística em torno de si, deixando transparecer aos desavisados ser um homem sábio e virtuoso, de ser o “conhecedor da verdadeira Maçonaria”. Sua única intenção é mais tarde colocar à venda no mercado as porcarias que vai escrever com a sua pena fraudulenta, a partir de concepções quiméricas geradas nos antros obscuros do seu cérebro ou de material sensacionalista publicado dentro e fora do país. Mais do que lixeiro, o mercador de ilusões atua na Maçonaria da mesma forma que o proxeneta na zona do baixo meretrício. Não há nada que fique a salvo de suas prostituições: nossa filosofia maçônica de vida, nossos símbolos, nossas reuniões, nossas alegorias, nossas comemorações, nossos banquetes e, lamentavelmente, nossos irmãos Aprendizes e Companheiros. Esses são as suas maiores vítimas, pois enquanto não adquirem resistência intelectual e conhecimentos maçônicos suficientes para rechaçarem as suas imposturas (alguns não adquirem nunca!), eles as assumem como verdades sublimes e, o que é pior, passam a apregoá-las por toda parte como tais, inclusive no mundo profano, expondo nossa instituição ao ridículo. Em tudo esse defraudador põe o seu dedo ruinoso para corromper e mistificar, jamais se lembrando, porém, de usá-lo para ressaltar o real, simples, mas magnânimo propósito de nossas alegorias, QUE É O DE FAZER COM QUE O MAÇOM (pedreiro por definição) JAMAIS SE ESQUEÇA DO SEU PAPEL DE CONSTRUTOR SOCIAL. Com o tempo, a palavra dele vai adquirindo ares de autoridade e os erros que dissemina nas calamidades que escreve passam a triunfar
sobre a verdade.

C. Comportamento e atuação como Mestre Maçom

Como Mestre esse tipo de maçom desencoraja a livre e sadia investigação dos fatos, de modo a fazer com que os Aprendizes e Companheiros assumam como verdadeiras suas ridículas superstições. Por ser um zero intelectual, costuma tratá-los como crianças, apregoando-lhes pseudociências, anedotas místicas pueris, e bobagens de fácil assimilação. Só recebem o seu aplauso os trabalhos que estiverem floreados com as quimeras com as quais está de acordo. Ao mesmo tempo opõe-se aos Mestres que se esforçam para ministrar-lhes ensinamentos maçônicos úteis. Sua estupidez ele a demonstra quando é questionado a respeito das doutrinas que tenta propagar em loja. Quando não as ignora por completo, como é de praxe, conhece-as muito superficialmente, limitando-se apenas a repetir chavões surrados assoprados em seu ouvido por outros visionários tão ou mais ingênuos do que ele. Com frequência, e às vezes sem se dar conta do desrespeito com que o faz, o maçom supersticioso costuma inserir seus irmãos no âmbito de suas fantasias místicas particulares, negando esse mesmo direito aos outros quando está em seu poder fazê-lo. Como orador, ou mesmo quando pede a palavra nas reuniões, é quase sempre para arengar uma impostura que absorveu sem exame ou uma frase feita colhida em algum dos “livros” que enumeramos há pouco. Como Venerável, recorre com frequência ao expediente arbitrário da censura para defender da destruição uma fábula qualquer que cultiva no cérebro, ou mesmo para silenciar um irmão que tente incinerá-la com a tocha da razão. Por fim, o maçom supersticioso tem carinho especial pelas “verdades reveladas” que, a rigor, nada mais são do que anedotas destituídas de sentido impressas em papel pintado, transmitidas em sonho por criaturas do além a um número seleto e reduzido de bárbaros que supostamente viveram nos pródromos da civilização. Esse amor é de certa forma compreensível porque, primeiro, essas “verdades” são brechas que facilitam o enxerto de imposturas (de fabricação própria ou de terceiros) em nossas alegorias e manuais de instrução; segundo porque os rituais de alguns “altos graus”, que ele assume como maçônicos, acham-se repletos delas, de forma velada ou explícita, o que pode encorajar o seu “instinto reformador” a torná-los ainda mais fraudulentos do que já são, se estiver em seu poder fazê-lo, tal como muitas vezes ocorreu no passado; terceiro porque elas permitem-no transformar a Maçonaria –pelo menos em sua imaginação–, em uma espécie de local de culto particular, em apêndice de alguma religião que o frustra ou frustrou. Quando se compara os rituais modernos com os originais –ou mesmo os atuais em circulação–, nota-se de imediato a enorme quantidade de invencionices grosseiras que foram sendo introduzidas ao longo dos anos por impostores como Cagliostro, Saint-Martin, Fessler, Willermoz e outros, de modo a adequá-los às suas personalidades excêntricas. Não é demais sublinhar aqui que essas “verdades reveladas”, que se esfarelam facilmente quando recebem o bafejo de um raciocínio bem aplicado, durante séculos foram empregadas para atrasar a marcha da Ciência, cobrir o planeta de místicos e monges inúteis; escravizar a humanidade; derramar rios de sangue e lágrimas; encher o mundo de órfãos e viúvas, inventar instrumentos de tortura e dor; destruir civilizações inteiras, acender as chamas da perseguição; encarcerar cientistas, investigadores, poetas e filósofos honestos (muitos maçons); promover guerras; atiçar levantes sangrentos; semear o ódio e fazer milhares de vítimas por toda parte.

D. Prejuízos à Maçonaria

Essa fé que ordena-nos crer cegamente no que nos dizem, que não permite o emprego da razão, é a fé do ignorante; ou do estúpido que se converte em fácil instrumento dos demais. O homem que não estuda o que não compreende, que aceita sem exame o que lhe dizem, degenera sua condição, igualando-se ao bruto. (Ritual do Grau 18o – Cavaleiro Rosa Cruz – Rito Escocês Antigo e Aceito)
A fé no desconhecido é patrimônio da ignorância. (Ritual do Grau 19o – Grande Pontífice – Rito Escocês Antigo e Aceito)
O maçom supersticioso difere-se do obscurantista religioso apenas na arte da dissimulação e no que diz respeito aos seus objetos de culto. Ambos são inimigos da liberdade de expressão e amigos da censura e da arbitrariedade: o primeiro no íntimo e o segundo de forma manifesta. No resto, são iguais em quase tudo.
Julgando-se acima da lei, nosso personagem não compreende que para que a “Fraternidade dos Maçons Livres e Aceitos” continue merecendo assim ser denominada e funcionando, é mister que seus membros guardem para si suas fantasias e crenças particulares, bem como respeitem outras formas de fé e maneiras de pensar, tal como mandam os nossos regulamentos. Teimoso, intolerante e insolente, ele chega às vezes ao extremo de agir como um velho decrépito, não importando a sua idade e o ridículo que o seu comportamento suscita. Em qualquer esfera da vida, ante um fato novo e incontestável, uma descoberta científica que lança por terra uma quimera que fermenta em seu cérebro, ele passa a odiar o fato e, sobretudo quem o descobriu. Na Maçonaria, procede de modo idêntico: mesmo estando demonstrada a incompatibilidade de suas concepções com a realidade, com a história e filosofia maçônicas, continua a defendê-las com unhas e dentes, caso creia nelas. De maneira alguma se curva às evidências e aos fatos, que falam mais alto do que qualquer opinião.
Os Landmarques 19, 20 e 21, que estabelecem, respectivamente, a obrigatoriedade do maçom crer em um “princípio criador”, crer em uma vida futura, e crer nas verdades reveladas em algum “Livro da Lei”, parecem ser os únicos regulamentos que o nosso maçom costuma obedecer, ou melhor, supõe-se que o faça, pois não há como saber no quê ele realmente crê na intimidade, sobretudo se for um hipócrita. E hipocrisia é o que não falta no meio religioso.(***) Além do mais, como são bastante vagos nesses três pontos, esses landmarques obsoletos –que por estarem em frontal contradição com a liberdade de pensamento há muito tempo já deveriam ter sido suprimidos–, podem ser interpretados de inúmeras maneiras e, por isso mesmo, serem empregados para impor o arbítrio a um irmão que professa uma crença incomum (ou nenhuma), censurar concepções a respeito da vida além-túmulo diferentes das que estão na moda, criticar o que alguns entendem como “revelação” e, ainda, anatematizar grupos religiosos minoritários que manifestem suas crenças particulares, ainda que de maneira honesta. Tente o leitor afirmar, por exemplo, que crê em um deus diferente do judaico-cristão e observe o semblante de desaprovação do maçom em exame! Melhor ainda, diga com ar de seriedade que crê nos deuses indianos (Brahma, Ganesha, Xiva etc.) e veja o como o seu rosto se retorce! Teste a tolerância que ele diz praticar rejeitando a Bíblia como “Livro da Lei” e exigindo a sua substituição pelo Alcorão! Questione os dogmas e os sofismas que ele apregoa em loja dirigindo-lhe uma pergunta bem simples: com que autoridade você afirma isso? Peça pelas credenciais dos impostores cujas doutrinas abraçou e observe o seu tartamudear!

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