A Arte de Viver! @
Autoria de Ivo Maioli | |
O homem nasce para atingir a vida, mas tudo depende dele. Ele pode
perdê-la. Ele pode seguir respirando, ele pode seguir comendo, ele pode seguir
envelhecendo, ele pode seguir se movendo em direção ao túmulo - mas isso não é
vida. Isso é morte gradual, do berço ao túmulo, uma morte gradual com a duração
de setenta anos. E porque milhões de pessoas ao redor de você estão morrendo
essa morte lenta e gradual, você também começa a imitá-los. As crianças
aprendem tudo daqueles que estão em volta delas e nós estamos rodeados pelos
mortos. Então temos que entender primeiro o que eu entendo por 'vida'. Ela não
deve ser simplesmente envelhecer. Ela deve ser desenvolver-se. E isso são duas
coisas diferentes. Envelhecer, qualquer animal é capaz. Desenvolver-se é prerrogativa
dos seres humanos. Somente uns poucos reivindicam esse direito
Clique no player abaixo para ouvir!
Desenvolver-se significa mover-se a cada momento mais profundamente no
princípio da vida; significa afastar-se da morte - não ir na direção da morte.
Quanto mais profundo você vai para dentro da vida, mais entende a imortalidade
dentro de você. Você está se afastando da morte: chega a um momento em que você
pode ver que a morte não é nada, apenas um trocar de roupas ou trocar de casas,
trocar de formas - nada morre, nada pode morrer. A morte é a maior ilusão que
existe.
Como
desenvolver-se? Simplesmente observe uma árvore. Enquanto a árvore cresce, suas
raízes crescem para baixo, tornam-se mais profundas. Existe um equilíbrio;
quanto mais alto a árvore vai, mais fundo as raízes vão. Na vida,
desenvolver-se significa crescer profundamente para dentro de si mesmo - que é
onde suas raízes estão.
Para mim o
primeiro princípio da vida é meditação. Tudo o mais vem em segundo lugar. E a
infância é o melhor momento. À medida que você envelhece, significa que você
está chegando mais perto da morte, e se torna mais e mais difícil entrar em
meditação. Meditação significa entrar na sua imortalidade, entrar na sua
eternidade, entrar na sua divindade. E a criança é a pessoa mais qualificada
porque ela ainda está sem a carga da educação, sem a carga de todo o tipo de
lixo. Ela é inocente. Mas infelizmente a sua inocência está sendo considerada
como ignorância. Ignorância e inocência tem uma similaridade, mas elas não são
a mesma coisa. Ignorância também é um estado de não conhecimento, tanto quanto
a inocência é. Mas também existe uma grande diferença que passou despercebida
por toda a humanidade até agora. A inocência não é instruída - mas também não é
desejosa de ser instruída. Ela é totalmente contente, preenchida...
O primeiro
passo na arte de viver será criar uma linha de demarcação entre ignorância e
inocência. Inocência tem que ser apoiada, protegida - porque a criança trouxe
com ela o maior tesouro, o tesouro que os sábios encontram depois de esforços
árduos. Os sábios têm dito que se tornaram crianças novamente, que eles
renasceram...
Sempre que
você perceber que perdeu a oportunidade da vida, o primeiro princípio a ser
trazido de volta é a inocência. Abandone o seu conhecimento, esqueça as suas
escrituras, esqueça as suas religiões, suas teologias, suas filosofias. Nasça
novamente, torne-se inocente - e a possibilidade está em suas mãos. Limpe a sua
mente de todo conhecimento que não foi descoberto por você mesmo, de todo
conhecimento que foi tomado emprestado dos outros, tudo o que veio pela
tradição, convenção, tudo o que lhe foi dado pelos outros - pais, professores,
universidades. Simplesmente desfaça-se disso. Novamente seja simples, mais uma
vez seja uma criança. E esse milagre é possível pela meditação.
Meditação
é apenas um método cirúrgico não convencional que corta tudo aquilo que não é
seu e só preserva aquilo que é o seu autêntico ser. Ela queima tudo o mais e o
deixa nu, sozinho embaixo do sol, no vento. É como se você fosse o primeiro
homem que tivesse descido na Terra - que nada sabe e que tem que descobrir
tudo, que tem que ser um buscador, que tem que ir em peregrinação.
O segundo
princípio é a peregrinação. A vida deve ser uma busca - não um desejo, mas uma
pesquisa: não uma ambição para tornar-se isso, para tornar-se aquilo, um
presidente de um país, ou um primeiro-ministro, mas uma pesquisa para encontrar
'Quem sou eu?'. É muito estranho que as pessoas que não sabem quem elas são,
estão tentando se tornar alguém. Elas nem mesmo sabem quem elas são neste
momento! Elas não conhecem os seus seres - mas elas têm um objetivo de vir a
ser. Vir a ser é a doença da alma. O ser é você e descobrir o seu ser é o
começo da vida. Então cada momento é uma nova descoberta, cada momento traz uma
alegria. Um novo mistério abre as suas portas, um novo amor começa a crescer em
você, uma nova compaixão que você nunca sentiu antes, uma nova sensibilidade a
respeito da beleza, a respeito da bondade.
Você se torna
tão sensível que até a menor folha de grama passa a ter uma importância imensa
para você. Sua sensibilidade torna claro para você que essa pequena folha de
grama é tão importante para a existência quanto a maior estrela; sem esse folha
de grama, a existência seria menos do que é. E essa pequena folha de grama é
única, ela é insubstituível, ela tem a sua própria individualidade.
E essa
sensibilidade criará novas amizades para você - amizades com árvores, com
pássaros, com animais, com montanhas, com rios, com oceanos, com as estrelas. A
vida se torna mais rica enquanto o amor cresce, enquanto a amizade cresce...
Quando
você se torna mais sensível, a vida se torna maior. Ela não é um pequeno poço,
ela se torna oceânica. Ela não está confinada a você, sua esposa e seus filhos
- ela não é confinada de jeito algum. Toda essa existência se torna a sua
família e a não ser que toda essa existência seja a sua família, você não
conheceu o que é a vida. - porque homem algum é uma ilha, nós estamos todos conectados.
Nós somos um vasto continente, unidos de mil maneiras. E se o nosso coração não
está cheio de amor pelo todo, na mesma proporção a nossa vida é diminuída.
A
meditação lhe traz sensibilidade, uma grande sensação de pertencer ao mundo.
Este é o nosso mundo - as estrelas são nossas e nós não somos estrangeiros
aqui. Nós pertencemos intrinsecamente à existência. Nós somos parte dela, nós
somos o coração dela.
Em segundo
lugar, a meditação irá lhe trazer um grande silêncio - porque todo o lixo do
conhecimento foi embora, pensamentos que são partes do conhecimento foram
embora também... Um imenso silêncio e você é surpreendido - esse silêncio é a
única música que existe. Toda música é um esforço para manifestar esse silêncio
de algum modo.
Os videntes do antigo oriente foram muito
enfáticos a respeito da questão de que todas as grandes artes - música, poesia,
dança, pintura, escultura - são todas nascidas da meditação. Elas são um
esforço para, de algum modo, trazer o incompreensível para o mundo do
conhecimento, para aqueles que não estão prontos para a peregrinação -
presentes para aqueles que ainda não estão prontos para partirem na
peregrinação. Talvez uma canção possa despertar um desejo de ir em busca da
fonte, talvez uma estátua.
Na próxima
vez que em você entrar em um templo de Gautama Buda ou de Mahavira, sente-se
silenciosamente e olhe a estátua... porque a estátua foi feita de tal forma, em
tal proporção que se você olhá-la, você cairá em silêncio. É uma estátua de
meditação; não é a respeito de Gautama Buda ou de Mahavira...
Naquele
estado oceânico, o corpo toma uma certa postura. Você próprio já observou isso,
mas não estava alerta. Quando você está com raiva, você observou? seu corpo
tomou uma certa postura. Na raiva você não pode manter as suas mãos abertas: na
raiva, a mão se fecha. Na raiva você não pode sorrir - ou você pode? Com uma
certa emoção, o corpo tem que seguir uma certa postura. Pequenas coisas estão
profundamente relacionadas no interior...
Uma certa
ciência secreta foi usada por séculos, de modo que as gerações futuras pudessem
entrar em contato com as experiências das gerações mais velhas - não através de
livros, não através de palavras, mas através de algo que vai mais profundo -
através do silêncio, através da meditação, através da paz. À medida que seu
silêncio cresce, sua amizade cresce, seu amor cresce; sua vida se torna uma
dança, momento a momento, uma alegria, uma celebração.
Você já
pensou sobre o porquê, em todo o mundo, em toda cultura, em toda sociedade,
existem uns poucos dias no ano para a celebração? Esses poucos dias para a
celebração são apenas uma compensação - porque essas sociedades tiraram toda a
celebração de sua vida e se nada é dado para você em compensação, sua vida pode
tornar-se um perigo para a cultura. Toda cultura criou alguma compensação e
assim você não se sentirá completamente perdido na miséria, na tristeza... Mas
essas compensações são falsas. Mas no seu mundo interior pode existir uma
continuidade de luz, canções, alegria.
Sempre
lembre-se que a sociedade o compensa quando ela sente que a repressão pode
explodir em uma situação perigosa se não for compensada. A sociedade encontra
algum jeito de lhe permitir soltar a repressão. Mas isso não é a verdadeira celebração,
e não pode ser verdadeira. A verdadeira celebração deveria vir de sua vida, na
sua vida.
E a
celebração não pode estar de acordo com o calendário, que no primeiro dia de
novembro você irá celebrar. Estranho, o ano todo você é miserável e no primeiro
dia de novembro, de repente, você sai da miséria, dançando. Ou a miséria era
falsa ou o primeiro de novembro é falso.; ambos não podem ser verdadeiros. E
uma vez que o primeiro de novembro se vai, você está de volta em seu buraco
negro, todo mundo em sua miséria, todo mundo em sua ansiedade.
A vida
deveria ser uma celebração contínua, um festival de luzes por todo o ano.
Somente então você pode se desenvolver, você pode florir. Transforme pequenas
coisas em celebração... Tudo o que você faz deveria expressar a si próprio;
deveria ter a sua assinatura. Então a vida se torna uma celebração contínua.
Inclusive
se você adoece e você está deitado na cama, você fará daqueles momentos de
repouso, momentos de beleza e alegria, momentos de relaxamento e descanso,
momentos de meditação, momentos para ouvir música ou poesia. Não há necessidade
de ficar triste porque você está doente. Você deveria estar feliz porque todo
mundo está no escritório e você está na cama como um rei, relaxando - alguém está
preparando chá para você, o samovar está cantando uma canção, um amigo se
oferece para vir e tocar flauta para você. Essas coisas são mais importantes do
que qualquer remédio. Quando você está doente, chame um médico. Mas, mais
importante, chame aqueles que o amam porque não existe remédio mais importante
que o amor. Chame aqueles que podem criar beleza, música, poesia à sua volta,
porque não existe nada que cure como uma atmosfera de celebração.
O
medicamento é o mais baixo tipo de tratamento. Mas parece que nós esquecemos
tudo, assim nós temos que depender dos medicamentos e ficar rabugentos e
tristes - como se você estivesse perdendo uma grande alegria que havia quando
você estava no escritório! No escritório você era miserável - simplesmente um dia
de folga, mas você também se agarra à miséria, você não a deixa ir.
Faça todas
as coisas criativas, faça o melhor a partir do pior - isso é o que eu chamo de
arte. E se um homem viveu toda a vida fazendo a todo momento uma beleza, um
amor, um desfrute, naturalmente a sua morte será o supremo pico no empenho de
toda a sua vida.
Os últimos
toques... sua morte não será feia como ordinariamente acontece todo dia com
todo mundo. Se a morte é feia, isso significa que toda a sua vida foi um
desperdício. A morte deveria ser uma aceitação pacífica, uma entrada amorosa no
desconhecido, um alegre despedir-se dos velhos amigos, do velho mundo...
Comece com a meditação e muitas coisas
crescerão em você - silêncio, serenidade, êxtase, sensibilidade. E o que quer
que venha com a meditação, tente trazer para a sua vida. Compartilhe isso,
porque tudo o que é compartilhado cresce mais rápido. E quando você atingir o
momento da morte, você saberá que não existe morte. Você pode dizer adeus, não
existe nenhuma necessidade de lágrima de tristeza - talvez lágrimas de
felicidade, mas não de tristeza."
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário