A amizade
Por Carlos Bernardo González Pecotche (Raumsol)
A
amizade, tal como é no fundo e em sua singeleza, equivale ao afeto que,
nascendo no coração dos seres humanos, emancipa-se de toda mesquinhez e
interesse, enaltecendo e enobrecendo o pensamento e o sentimento dos
homens.
Não se poderia conceber a amizade se
ela não fosse presidida pelo ternário simpatia-confiança-respeito,
indispensável para nutrir o sentir que a constitui. Se admitimos que o
ódio é movido por espíritos em discórdia que as forças do mal aproveitam
para ampliar sua abominação, com maior convicção ainda deveremos
admitir que a amizade, encarnando o espírito de
solidariedade pela compreensão do afeto, pode mover forças muito mais
potentes que as do mal, pois ela é o grande ponto de apoio sobre o qual
se concentram as maiores esperanças do mundo.
É pelo signo da amizade que se unem os homens, os povos e as raças, e é sob seus auspícios que há de haver paz na Terra
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Se algo existe na natureza humana que
demonstre de forma mais palpável a previsão do Criador Supremo ao lhe
infundir seu hálito de vida é, sem dúvida alguma, a propensão de todo
ser racional a estender seu afeto ao semelhante, já que nisto,
poderíamos dizer, se apoia a manutenção ou perpetuação da espécie
humana. A força que a amizade infunde reciprocamente nos seres sustenta a
vida através de todas as adversidades e a perpetua, apesar dos
cataclismos que o mundo já teve de suportar.
A amizade entre os homens consegue
realizar o que nenhuma outra coisa consegue, por maior que seja. Não
seria ousado afirmar que ela é um dos poucos valores de essência
superior que ainda restam no homem, que o elevam e dignificam,
tornando-o generoso e humanitário.
Não se violam impunemente os preceitos
naturais que tornam possível a convivência humana. Toda amizade sincera
é presidida pelo próprio Deus; quem atraiçoa essa amizade comete, em
conseqüência, uma inqualificável ofensa ao Supremo Juiz de nossos atos.
Embora seja certo que nem todos podem
inspirar e ainda professar uma verdadeira amizade, por carecerem de
sentimentos adequados que não desvirtuem o significado que substancia
seu inegável mérito, ou por impedi-lo, geralmente, características
mentais ou psicológicas adversas, é de todo ponto de vista admissível
que possam, superando suas condições pessoais, alcançar a graça de uma
amizade ou de muitas.
Mas uma coisa que não sabem os que
destroem francas e nobres amizades é que a corrente de afeto altruísta
bruscamente cortada por quem defrauda seu semelhante encontra sempre
sólidos pontos de apoio no coração dos demais, daqueles que mais
próximos estiveram dessa amizade.
Em geral, os homens esquecem em que
circunstâncias nasceu esse sentimento e como foi aumentando
gradualmente, até os limites do maior apreço. Daí também que apareça, na
alma dos que o truncam sem justificativa alguma, o tão desprezível
estigma da ingratidão.
Fácil será deduzir, pois, que a
humanidade só deixará de existir como tal se a amizade se extinguir por
completo no coração dos homens.
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